Entre um instante e outro, entre o passado e o futuro, a vaguidão branca do intervalo. Vazio como a distância de um minuto a outro no círculo do relógio .
O fundo dos acontecimentos erguendo-se calado e morto, um pouco da eternidade. Apenas um segundo quieto talvez separando um trecho da vida ao seguinte.
Nem um segundo, não pôde contá-lo em tempo, porém longo como uma linha reta infinita.
Profundo, vindo de longe, — um pássaro negro, um ponto crescendo do horizonte, aproximando-se da consciência como uma bola arremessada do fim para o princípio.
E explodindo diante dos olhos perplexos em essência de silêncio.
Deixando depois de si o intervalo perfeito como um único som vibrando no ar.
Renascer depois, guardar a memória estranha do intervalo, sem saber como misturá-lo à vida.
Carregar para sempre o pequeno ponto vazio .
CLARICE LISPECTOR
O fundo dos acontecimentos erguendo-se calado e morto, um pouco da eternidade. Apenas um segundo quieto talvez separando um trecho da vida ao seguinte.
Nem um segundo, não pôde contá-lo em tempo, porém longo como uma linha reta infinita.
Profundo, vindo de longe, — um pássaro negro, um ponto crescendo do horizonte, aproximando-se da consciência como uma bola arremessada do fim para o princípio.
E explodindo diante dos olhos perplexos em essência de silêncio.
Deixando depois de si o intervalo perfeito como um único som vibrando no ar.
Renascer depois, guardar a memória estranha do intervalo, sem saber como misturá-lo à vida.
Carregar para sempre o pequeno ponto vazio .
CLARICE LISPECTOR